Regeneração Urbana de uma Área localizada no Centro Histórico de Viana do Castelo

Regeneração Urbana de uma Área localizada no Centro Histórico de Viana do Castelo

A presente proposta visa a elaboração de um Projeto-piloto de Conceção para a regeneração urbana de uma área do Centro Histórico de Viana do Castelo. Trata-se de uma área localizada na parte nascente do Centro Histórico de Viana do Castelo, delimitada a norte pela Rua da Bandeira, a nascente pela Avenida D. Afonso III, Praça D. Afonso III e Rua Abel Viana, a sul pela Rua João Tomás da Costa e Avenida Luís de Camões e a poente pela Rua Martim Velho, Praça Dª Maria I e Largo da Almas. 

A intervenção assenta numa vertente centrada na qualidade e humanização do espaço, sustentada pela identidade cultural local e revalorização da paisagem existente, na criação de um modelo urbano que combina altas densidades e baixas densidades.
A dimensão da cidade de Viana do Castelo e a sua situação atual, levou-nos a ter uma análise mais aprofundada, na qual concluímos que a sobrevivência da mesma, passa pela necessidade de criar um espaço para todos os que nela vivem, que a utilizam e que a visitam. A cidade tem que se adaptar aos cidadãos que preferem uma cidade nostálgica na qual tem tudo localmente e em que os seus habitantes se deslocam a pé. Mas também temos de ter uma cidade para os cidadãos mais apressados, preocupados com as suas tarefas, os seus negócios e que encontram nela uma resposta aos seus problemas diários.
Temos de ter uma cidade para os habitantes, para os trabalhadores, para estudantes, para as crianças, para os idosos e atrativa, também, para os visitantes e turistas. Toda esta vivência saudável terá de ser alimentada nos seus usos diurnos como nos seus usos noturnos.
 
“Pois mais duráveis que sejam as suas construções, são as relações que definem a experiência dos lugares. Aos fios de relações somam-se ainda os fios das passagens, circuitos e caminhos que desenham o pulso das cidades.”

Fernando de Mello Franco e Marta Bogéa, Jornal Arquitectos n.º225

O tecido urbano existente foi complementado com um estudo de ligação do jardim marginal ao edifício contíguo à marina de recreio e com a resolução viária junto à ponte Eiffel. Esta nova ligação ao edifício da marina proporcionará a oportunidade de estabelecer um novo relacionamento urbano e paisagístico, trazendo nova vida à parte sul/nascente da cidade, transformando a nova área num largo passeio pedonal, revalorizando a sua integração na estrutura física e económica da cidade.
A malha viária da área de intervenção foi reajustada com um novo reperfilamento das infraestruturas de circulação existentes, evidenciando no seu todo vários tipos de arruamento, passeios e estacionamento público.

As linhas estratégicas da rede viária são alcançadas com a interligação com a rede viária existente, com os seguintes objetivos:

● Hierarquia da rede viária;
● Relação da dimensão das vias;
● Melhoria da mobilidade pedonal e das condições do espaço público;
● Estruturação funcional da rede viária otimizada. 

"A melhoria das condições de vida das populações e a minimização dos impactos ambientais, são dois fatores que hoje em dia orientam a conceção de infraestruturas subterrâneas, podendo-se mesmo dizer que se está atualmente lidando com a Era Ambiental dos túneis a que a doutrina principal é a da otimização dos procedimentos.
A escolha do traçado e dos locais de implantação dos túneis, depende em muito maior escala da satisfação das necessidades funcionais das populações, do que propriamente das características intrínsecas dos materiais e das zonas envolvidas. Quer isto dizer que, condições geológico-geotécnicas adversas, geometrias arrojadas tanto em comprimento como em secção transversal, frágeis espessuras de recobrimento, territórios urbanos densamente ocupados ou com estruturas bastante à superfície, entre tantas outras quaisquer circunstâncias, não são passíveis de constituir só por si um impedimento à abertura de um túnel.”
(Túneis, uma herança ancestral rumo ao futuro. Prof. Carlos Manuel da Cruz Moreira).

A nossa proposta passa pela construção de um túnel, no intuito de agregar a área envolvente ao edifício da marina ao jardim e à restante cidade, e que será objetivamente no sentido de melhorar a dinâmica económica e funcional do edifico junto à marina para a qual se propõe uma refuncionalização para uma unidade hoteleira temática.

Não podemos esquecer que a falta de resolução técnica deste local levou a sucessivos fracassos funcionais e económicos ao longo de vários anos, não podemos culpabilizar somente as opções das iniciativas privadas e as temáticas escolhidas, neste caso concreto, este fracasso advém essencialmente, não da função mas sim da falta de ligação entre estas duas áreas causada pelo arruamento existente de quatro faixas viárias à superfície. Pese, embora, o tráfego seja desacelerado com a introdução de semáforos e passadeiras para peões, não resolve a livre e despreocupada circulação pedonal tão necessária para um espaço de lazer.
O túnel viário terá quatro faixas de circulação viária de acordo com as faixas atualmente em funcionamento, e terá pela parte interior do túnel um acesso e uma saída ao parque de estacionamento do futuro mercado. O parque de estacionamento proposto é uma ampliação do parque de estacionamento previsto no edifício do mercado, que facilitará de forma definitiva os acessos ao mercado e a área circundante como também os acessos ao novo hotel temático junto à marina.

A dimensão do túnel é circunscrita a uma determinada dimensão devido ao valor estético existente. À nascente, a entrada/saída do túnel inicia-se do lado poente da marina para salvaguardar ao condutor o cenário idílico dos veleiros e iates aí ancorados. No ponto poente, a entrada/saída do túnel proporcionará no fim da subida para quem sai do túnel a leitura do edifício da biblioteca, elemento icónico da cidade de Viana do Castelo.
Junto à ponte Eiffel (Praça da Galiza), à nascente, propõe-se uma rotunda.

Do nosso ponto de vista esta solução apresenta a forma mais económica de resolver a fruição do trânsito neste ponto sensível da cidade. A rotunda sendo controversa para muitos é a resolução técnica mais eficaz de escoar o trânsito dos pontos nevrálgicos das cidades.
Função:
A proposta para o edifício “A6” assenta numa Escola Superior de Gastronomia, setor emergente da economia da atual década e vital para a economia nacional.
Portugal está identificado com um dos países europeus com um dos melhores destino da Gastronomia e Vinhos, a gastronomia minhota, terá que ser considerada como um produto turístico a valorizar e tornou-se como um atrativo turístico-cultural da região.
Neste sentido torna-se fundamental que seja criada uma Escola Superior de Gastronomia em Viana do Castelo, uma vez que seria pioneira em Portugal e sendo o Minho e Viana do Castelo um dos locais onde a gastronomia é mais rica e diversificada, com esta escola de formação Viana do Castelo, teria mais uma atracão para o turismo e visitantes potenciada por uma cozinha de excelência com ingredientes locais igualmente de grande qualidade, sem esquecer a promoção e valorização do vinho verde único no mundo.
Podemos ainda referir que a toda esta valorização, preservação das nossas raízes culturais está subjacente a inovação da nossa gastronomia como fator de atração e ao mesmo tempo não podemos esquecer o valor económico de toda esta cadeia.

Imagem:
A intervenção assenta em apresentar uma imagem forte, criando identidade com uma cobertura vegetal vertical - ecoparede - em conjunto com painéis translúcidos e vão de iluminação de entrada de luz natural.
A utilização da cobertura vegetal vertical com o fim de recobrir a fachada tem como objetivo o conforto térmico e a amenizar o micro clima urbano, esta técnica pode reduzir substancialmente o consumo de energia, melhorar a qualidade do ar e contribuir para a biodiversidade no espaço urbano.

Área total: 2150m2
(r/chão: 600m2 + 1.º andar: 600m2 + 2.º andar: 475m2 + 3.º andar: 475m2)
Função:
O sucesso e crescimento económico de uma cidade passa pela fixação dos jovens à mesma, para que tal aconteça temos que criar escolas, universidades centros criativos e inovadores, que levará os jovens a residir e criar laços de afetividade à sua cidade de formação.
Pelo qual apresentamos uma Residência de Estudantes (edifício “A4”) no centro da cidade que para além da sua função levará à dinamização noturna e diurna do centro histórico.

A proposta de crescimento de residência de estudantes - para além da oferta existente - advém da necessidade primordial de trazer outros jovens de outros países, por exemplo através do programa Erasmus, de forma a dar a conhecer a nossa cidade e potenciar o surgimento de outros conceitos económicos para uma nova dinamização da cidade de Viana do Castelo.

Imagem:
A intervenção assenta no mesmo princípio que a apresentada para o edifício “A6” imagem baseada numa cobertura vegetal vertical - ecoparede - em conjunto com painéis translúcidos e vão de iluminação de entrada de luz natural.

Área total: 1250m2
(r/chão: 260m2 + 1.º andar: 330m2 + 2.º andar: 330m2+ 3.º andar: 330m2)
Função:
A proposta sugerida para este edifício identificada como “A2” no Plano de Pormenor do Centro Histórico é para a criação de um Espaço Experimental de Arte.
Este espaço proporcionará um local de criatividade e de formação para um público muito abrangente desde crianças até aos seniores.
Será um local de primazia artística e artesanal permitindo uma aproximação e um contacto desde tenra idade com diversas valências, nomeadamente, pintura, escultura, dança, design, poesia e banda desenhada, como também transmitir o gosto e conhecimento das nossas tradições locais e regionais, potenciando sinergias entre artesãos e artistas para a criação de novos produtos com o intuito de fomentar parcerias e o desenvolvimento económico e cultural.
Esta indústria criativa será igualmente sustentada com recurso às tecnologias.
Um dos conceitos subjacentes neste projeto relaciona-se com a educação de fomentar nas crianças e jovens o conhecimento e o interesse pela área artística e pela arte tradicional local ponto de partida para a salvaguarda do nosso património cultural e imaterial.
Para o funcionamento deste espaço pretende-se que sejam criadas parcerias com os vários agentes culturais locais de forma a que seja um espaço auto-sustentado sem grandes recursos económicos. Temos que pensar cada vez mais no envolvimento das populações para que se sintam integradas nos problemas e soluções da sua cidade.

Imagem:
O projeto arquitetónico do edifício terá de ter uma imagem identificadora e característica da função a desenvolver, uma identidade própria, traduzida num edifício cénico e apelativo aos jovens.

Área total: 870m2
(r/chão: 290m2 + 1º andar: 290m2 + 2º andar: 290m2)
Função:
Devido ao seu enquadramento e ao local de destaque que o edifício se encontra, a sua refuncionalização e valorização ambiental terá que ser enquadrada num contexto turístico, eventualmente numa Unidade Hoteleira Temática, tendo como tema por exemplo, o mar, (Viana e o mar).

A tematização de hotéis é a forma de posicionar um hotel de forma independente e competitivo face ao poder das grandes redes nacionais e internacionais. Os hotéis temáticos têm a vantagem de aumentar a taxa de ocupação nos períodos de baixa temporada, e consequentemente alavancar a rentabilidade, também conseguem a fidelização de clientes em função de um determinado tema.
Este hotel temático deverá ser complementado por uma área expositiva relacionada com o tema proposto.
Para além desta unidade hoteleira deveria coexistir no edifício, uma loja âncora, que "obrigasse" a população a deslocar-se. 
 
Quisemos com a nossa proposta apresentar uma solução realista sem entrar no âmbito puramente académico, utópico e de ambições megalómanas. Tendo sempre presente no nosso conceito a originalidade da solução e a austeridade instalada na presente década, apresentamos um projeto-piloto de regeneração urbana para um quarteirão da cidade de Viana do Castelo, realista e viável.
O nosso dever como cidadãos é de ter um cuidado acrescido no investimento a aplicar, não cair na tentação fácil do desperdício do investimento público e privado em novos conceitos abstratos aplicados em cidade cobaias sem resultados positivos ou aplicar fórmulas inadaptáveis em determinadas cidades ou soluções viáveis mas desequilibradas relativamente aos seus elevados custos.


Concurso
Promovido pelo Município de Viana do Castelo
Classificação: 3º Lugar
Localização
Centro Histórico de Viana do Castelo, Portugal
Data
2013
Arquitetura
Valdemar Coutinho, Arq.
Proposta
Valdemar Coutinho Arquitectos